Bri’o’Cu
A pena para a tua insolência
Será 1000 anos de penitência
Que o exílio no desconhecido
Faça você refletir sobre a tempestade que nos tem acometido
Escrito encontrado em um encarte anexado ao “Manual do Churrasqueiro Alegre – Gold Edition”.
(A lenda diz que o encarte da edição Platinum vinha com gravuras, mas são apenas boatos).
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Se o Anel sair de Só-Tem-Pedreira, o tempo se escoará: três dias, dois alertas.
O primeiro aviso: a dor terrível, atormentando o portador como Bri’o’Cu atormentou a Ordem.
O segundo aviso: a luz de alerta, constrangendo o portador como Bri’o’Cu constrangeu a Ordem.
Escrito encontrado na porta da capunga de uma antiga taverna chamada “O Covil Inconvenientemente Secreto e Misterioso”.
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Sinsalabim e Mur tiveram dificuldades para encontrar um local apropriado para que pudessem recuperar as energias. Sinsalabim estava com o crânio quase moído depois da cabeçada que aplicou em Jah Biroba e, além disso, seus glúteos seguiam brilhando como fogos de artifício. Mur Ronusrim estava capenga também. A queda para ele não havia sido tão macia, pois o meio-elfo caiu direto em uma carroça oculta no feno.
Felizmente, conseguiram os trajes dos guardas, mas o estranho fenômeno que atingia a bunda de Sinsalabim atrapalhava tudo. Portanto, decidiram procurar o local mais reservado possível para descansar.
O forte era pequeno: se resumia a uma muralha que cercava um pequeno complexo, cujo principal edifício era um castelo, onde a torre servia de farol. Além disso, tudo parecia meio detonado, em ruínas. Apenas a muralha estava bem conservada. O reduto escolhido acabou sendo o estábulo local.
A sorte de Sinsalaba e Mur é que as chances de alguém encontrar eles por acaso era muito difícil. O motivo era a roupa sendo lavada no outro lado da muralha. A maioria da guarnição estava se entretendo vendo a acalorada discussão entre Jah Biroba e Pau Ladinha. Quer dizer... não era bem uma discussão, porque Jah ficava proferindo, com a voz mais suave que um ent pode utilizar, desculpas idiotas para Ladinha, enquanto esta rugia em profunda cólera (seu humor variava de forma espetacular).
O ambiente do estábulo era imundo, fedorento, nauseabundo. Apenas um cavalo povoava o estábulo. Mur jogou Sinsalabim em um monte de palha e logo em seguida tombou também, dizendo:
- Bem, a gente tem que dar um jeito nessa luz aí... se sairmos por aí, ela vai nos entregar no ato. E precisamos nos apressar, porque depois que recebi o sinal no meu comunicador mágico, não peidei mais nenhuma mensagem de meus companheiros. Eles podem estar em apuros!
Percebendo a gravidade e urgência da situação, Sinsalabim acionou as partes mais profundas de seu cérebro para bolar um plano espetacular que os fizessem sair dali em segurança:
- Será que poderíamos utilizar a bosta daquele pangaré como isolante da luz?
- Não...
- E se eu engatar aqui atrás aquele balde de ferro ali... a luz não teria por onde escapar!
- Não...
- E se eu entrar naquele caixote de ração, me ocultando totalmente, apenas fazendo um buraco na região dos fundilhos? Você poderia dizer que eu sou uma luminária moderna ou uma lanterna exótica.
- Não...
- E se apenas utilizarmos a desculpa que eu fui mordido por um vagalume radioativo e ganhei superpoderes?
- Você é doente?
- E se...
- Cale a boca.
Mur ficou preocupado. A cabeçada teria deixado sequelas naquele sujeito? Ou pior, ele era assim mesmo? Com aquela luz que vertia das calças de Simsalabim, todo o plano de furtividade de Ronusrim estava acabado. O jeito seria emplacar um ataque aberto.
Mas, de repente, o brilho cessou. Sem nenhuma explicação. Ambos não entenderam nada. Nem tentaram entender. Apenas descansaram mais um tempo e decidiram entrar no castelo.
Quando saíram para o pátio em direção a uma porta de acesso, conseguiram ouvir o embate entre o casal vegetal lá no lado de fora. Os guardas, povoando as ameias, gritavam fervorosamente, torcendo, apostando. Uns até tentavam ajudar Jah Biroba:
- Você foi comprar cigarros, não se lembra? – lembrou um, convenientemente.
- Calma madame, ele estaca procurando o dente postiço!! – gritava outro.
Sinsalabim e Mur se aproveitaram de tal distração e adentraram o castelo. Os disfarces ajudaram os dois a chegar ao topo do farol, onde imaginavam que encontrariam Eutoku Utérror. Mas lá encontraram apenas uma cela. Dentro dela, uma mulher.
- Difarola Ceso!! – Berrou Mur. – Você foi capturada!
A prisioneira pertencia ao grupo de Mur Ronusrim. Mas o meio-elfo bigodudo não teve tempo de soltar a aliada. Sua ação foi interrompida por uma voz:
- Alto lá! O que você pensa que está fazendo? – Disse um guarda, que saía das sombras com a lança em riste.
- Calma, chefia... Viemos alimentar a prisioneira... – blefou sabiamente o calculista Simsalabim, sacando a única coisa que encontrou no bolso. Ele prosseguiu: – ...com esta pedra besuntada com seiva de...
- Nunca vi vocês aqui... espera aí!! Ali no crachá de vocês está escrito “Chin Eludo” e “Grud Grud”. Vocês não são eles!
- Fomos desmascarados, Simsalabim... vamos lutar! – urrou Mur.
Nosso herói estava concentrado demais formulando seu embuste para se dar conta do ocorrido.
- ... Não se deixe enganar pelas aparências, amigo. Este raro tipo de pedra, quando ensopada com a seiva do Senhor da Floresta, fica uma delícia e... eu até vou morder para te mostrar.
- Espere um momento. Vocês são heróis-aventureiros-que-vieram-atrás-do-terrível-Eutoku-Utérror? – Nesse momento, o sujeito desmontou sua posição de guarda e jogou a lança no chão. – Não posso lutar com vocês. É inútil.
- Perdão? – indagou Mur.
- Creck!! – onomatopeizou a pedra.
- Ahhhh!!! – berrou de dor Sinsalabim, apenas agora se dando conta do comportamento pacífico do guarda.
- Vejam... De acordo com a minha Companhia de Guardas e Capangas da Costa Norte, onde eu trabalho, e que foi contratada por Eutoku, eu não preciso atacar sujeitos heróicos. Tipos como nós sempre perdemos para eles. Até porque, se vencêssemos, não teria aquele clímax com o chefe e tal... Então, vocês podem pegar a prisioneira ali e ir embora.
- Isso sempre funciona? – perguntou Mur.
- Claro que não! Além disso, existem outros Sindicatos, Companhias e Associações que possuem outras regras...
- Então tch...
- Pera aí, pera aí... deixa eu te dar um soco no estômago e depois você me dá uns tapas, assim pelo menos a gente tem uma açãozinha e tal...
Depois do duelo entre Mur e o guarda, o trio deixou a torre. Foi decidido que eles iriam até o salão de armas, pois o guarda afirmou que lá Eutoku Utérror passava boa parte de seu tempo.
Mur estava feliz de ter encontrado Difarola, mas havia mais um membro de seu grupo que não havia mostrado as caras. Mas tal problema teria que ser resolvido depois, pois o grupo chegou arrombando a porta do salão de armas (uma boa “dentada” de madeira resolveu o problema) e finalmente se depararam com o terrível Utérror.
O sujeito utilizava uma armadura de couro e uma capa marrom, que cobria boa parte de seu corpo. Possuia costeletas enormes e cabelos longos. Assim como Mur, era bigodudo, mas o seu era menos espesso e mais trabalhado. Ele jogava dardos alegremente em um alvo com a gravura de Mur Ronusrim. Em sua volta, cerca de 15 soldados o aplaudiam a cada arremesso. De repente, com a chegada dos visitantes, todos pararam e olharam os recém-chegados. Um silêncio profundo se seguiu. E então o caos estourou.
Eutoku mandou seus homens atacarem. Mur Ronusrim e Difarola Ceso avançaram também, pois não tinham como fugir. Logo ao lado, a bandinha de cordas e sopro que Utérror havia contratado para animar o ambiente, sem nada mais a fazer, começou a tocar e berrar a tradicional canção do centro-sudeste-continental, “Tosquiei meu cachorro pensando que fosse uma ovelha”. Além disso, Sinsalabim viu o Anel do Endo começar a brilhar intensamente e sentiu uma fraqueza repentina, além de que a voz na sua cabeça começou a contar piadas velhas. Como se não bastasse, Jah Biroba trespassou a parede de pedra da fortaleza como se fosse manteiga, estatelando-se no meio do salão. Ele havia sido arremessado violentamente, contra a sua vontade, por Pau Ladinha (não era possível dizer se isso tinha sido uma demonstração de afeto ou ódio).
Fim do segundo dia.
E agora? O que vai acontecer nessa fuzarca toda? Onde estará o(a) último(a) integrante do grupo de Mur Ronusrim? E o que ocorrerá quando o terceiro dia chegar ao fim?
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